Ave de Rapina
Onça
Cachorro
Cavalo
Gato
Arara

Gatos são flores que miam...

Editoria: Vininha F. Carvalho 03/08/2005

Quando a psiquiatra Nise da Silveira criou a Seção de Terapêutica
Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio, em 1946, os maiores avanços da psiquiatria mundial eram a lobotomia e o eletrochoque.

A lobotomia é um primor de violência: uma cirurgia onde se mutila o cérebro de uma pessoa, transformando-a pra sempre num vegetal. O eletrochoque não fica atrás: ser amarrado em uma cama de hospital e levar choques é humilhação e tortura.

Quem viu (e se nunca viu, que veja) o filme "Um Estranho no Ninho", do diretor Milos Forman, com Jack Nicholson, sabe do que se trata.

A doutora Nise, baixinha, magrinha e valente, comprou a briga com a direção do hospital e se recusou a usar os tais "métodos tradicionais".

Desenvolveu um método próprio de tratar a esquizofrenia. Ofereceu aos infelizes esquecidos em jaulas uma vida nova onde eram tratados com afeto e podiam criar e expressar o que sentiam.

No lugar da violência, a criatividade: pincéis,tinta, telas, cerâmica. Nise lia nas pinturas e esculturas de seus pacientes
[que preferia chamar de amigos] o que eles não conseguiam expressar numa linguagem articulada. Seguiu o conselho de Jung, seu mestre: estudou mitologia e alquimia para compreender a linguagem do inconsciente e o universo em que viviam os esquizofrênicos.

Em 46 anos de trabalho mandou a maior parte deles de volta pra casa, curados. Cães e gatos, chamados pela Dra. Nise de "co-terapeutas", faziam companhia a pessoas antes trancadas em
si mesmas e que pouco a pouco tornavam a olhar o mundo lá fora. É que o amor silencioso dos bichos abre portas.